terça-feira, 3 de março de 2009

Interview - O que trava o Inglês do aluno na hora de falar?

Após assistir à palestra com o título acima na Disal, sexta-feira passada, 27/02, convidei os palestrantes e autores do livro Liberte seu Inglês, Aysha Hijo Capano, Neusa Cassoni Hijo e Moriaki Hijo, para falar ao blog. Confira o que alunos e professores podem fazer para "destravar" a língua.

Afinal, o que trava o Inglês do aluno na hora de falar?
Moriaki -
Não praticar o Inglês para a conversação de resultados. (Esta resposta vale para o perfil do aluno tratado na palestra: adulto que sabe inglês, mas tem dificuldades com a conversação). O que não é praticado não vira habilidade; não virando habilidade não funciona na conversação. Cada aluno pratica o Inglês dentro do que ele entende por conversação. E cada um entende de um jeito. Não há consenso. Falta a "fotografia mental" do evento conversação. Por não ter a fotografia, o modelo, o aluno deixa de praticar pontos importantes que vão travar seu inglês na hora de falar.

Como os professores podem ajudar a “destravar” a língua dos alunos?
Moriaki
- O primeiro passo é mostrar a "fotografia" do evento conversação. Por isso, sugerimos as palestras de orientações, para que o aluno veja a conversação pela mesma ótica do professor. É como uma viagem. Quanto mais orientações a pessoa tiver sobre o país que vai visitar, melhor aproveitará a viagem, não? Ou como se diz em inglês “if you see it, you get it. If you don’t see it, it gets you”.
O segundo passo é tratar a conversação como um desempenho, que trava por falhas. Falhas e não erros. Erros acontecem por aplicar mal as regras gramaticais ou outras normas da língua. Na nossa palestra partimos da idéia que o aluno já superou essa fase, já não comete erros básicos, mas sim algumas falhas como: má pronúncia, não entende o que ouve, não usa frases prontas, não sabe abordar, não sabe fazer perguntas, etc.
Os professores, portanto, podem ajudar os alunos a destravar a língua fornecendo essas duas ferramentas - a fotografia mental do evento conversação e a noção de desempenho. Se o aluno consegue identificar as falhas, ele se sairá melhor na próxima vez. Corrigir as falhas para melhorar para a próxima vez. É assim que se molda o Inglês de conversação. É assim que se destrava o Inglês.

Como os alunos podem se ajudar?
Moriaki
- Não deixando secar a fonte principal da conversação: o “listening”. Sem praticar o “listening” tudo fica lento: o entendimento fica lento, a memória fica lenta, a resposta fica lenta, o Inglês fica artificial. Hoje com os recursos tecnológicos, o aluno pode ouvir o Inglês tal qual ele é falado quando quiser. Talvez nem precisasse dizer, mas vamos dizer: o Inglês de conversação está em sua casa a sua disposição. Não é maravilhoso?
Claro que não é só ouvir, tem que saber ouvir. Sempre com um “checklist” na mente para melhorar os pontos que compõem o evento conversação: as frases prontas, saber perguntar, saber abordar, pronúncia, gestos e atitudes etc. Tudo isso está lá no evento conversação. É só saber ouvir. Agora, atenção. Só funciona se você reproduzir na conversação o que ouviu. É sempre nessa ordem: ouviu... reproduziu! “Listening” em casa, voluntariamente, é uma extensão da aula de conversação. Não deixe escapar esta dica: é parte da aula de conversação.

Na apresentação, vocês reforçam a necessidade de os alunos praticarem “frases prontas” (standard phrases), mesmo que as palavras já sejam conhecidas. Por quê? Quais são alguns exemplos dessas frases?
Moriaki -
A aquisição de novos vocábulos é necessária e eterna. Jamais se deve parar. Só que o vocabulário tem uma função na língua que é a de identificação. A frase pronta tem outra função. Ela transporta ideias, intenções e emoções de maneira instantânea. A força dela está em ser instantânea. Muitas vezes nem é preciso completar a frase e ela já é entendida porque está engatilhada na mente das pessoas. A frase pronta tem a característica de usar palavras simples, e exatamente por isso ela não desperta a atenção do aluno. Este é o ponto. O aluno tem a falsa impressão que já a conhece. Não, não a conhece. Não conhecendo, não a usa. Não usando, empobrece sua conversação. Vamos ver?
Exemplos:
“Thank you for your time”. É uma frase pronta de uso frequente no Inglês, mas preste atenção e verá que o aluno não a usa. Por quê? Porque ele não encontra o momento de usá-la. Quando viu ou ouviu a frase pela primeira vez teve a falsa impressão que já a conhecia por causa das palavras simples e não deu a devida atenção.
Mais exemplos?
“That’s it!”. É uma frase pronta com vários significados. Dá vida ao Inglês de conversação. De tão usada não há como deixar de ouvi-la, mas o aluno não a usa. Não a usa porque acha que já a conhece bem por causa das palavras que a compõem. Não prestando atenção às situações em que ela é usada, o aluno não encontra o momento certo para usá-la. Vai deixá-la de lado.
Outro exemplo?
A palavra “just” como “just close the door”. O aluno não a usa. Não percebe que a presença de “just” muda o significado original de “close the door”. De tão usada, não há como deixar de ouvi-la, mas...

A base dessa ideia de “frases prontas” seria o mesmo que o Lexical Approach, abordagem na qual o aprendizado deve se basear em “chunks” e “collocations”, e não em palavras isoladas?
Moriaki -
Sim, é exatamente isso. Só que sentimos que os alunos precisam de um conceito prático. Por isso criamos o nome “frases prontas” ou “standard phrases”. É urgente que a frase pronta deixe de ser um ponto cego para o aluno no aprendizado do seu inglês. A frase pronta é a matéria prima da conversação. É ela que dá o conforto de “entendimento instantâneo”, conforto para quem diz e para quem ouve. A frase pronta é qualquer frase de uso consagrado numa determinada situação. Portanto, ela é esperada naquela situação. Ela já está engatilhada na mente das pessoas. Por exemplo, a frase "Do you want to marry me?" está gramaticalmente correta, mas não é a frase esperada na situação, e sim "Will you marry me?" (Veja mais exemplos ao final da entrevista).
A frase pronta fica sem sentido sem a situação, sem o contexto. Como elas são situacionais, elas precisam da situação (do contexto) para fazer sentido. Não há como usar bem as frases prontas sem encontrar o momento certo, a situação certa.

Quais são algumas dicas do livro “Liberte seu inglês” para que o aluno consiga se comunicar melhor?
Moriaki -
O foco do livro é direcionar o Inglês para o evento conversação. Só que o livro sozinho não funciona. Ele é um manual de orientações. Não é um livro didático nem é livro de conversação. Aprender conversação tem que ser com o professor. Conversação de resultados precisa de um professor especializado. Mas uma dica do livro é: leve o espírito de “treinamento em caso de incêndio” para a aula, o que significa participar para valer e não ficar na posição cômoda de recusar assuntos, falar superficialmente, não perguntar, não facilitar o entendimento do outro, etc. Seu Inglês de conversação só amplia se ele for exigido em todas as situações. Repetindo: em todas as situações. Se você não praticar seu Inglês, digamos, simulando um leilão, como você aprenderá as palavras e as frases usadas nessa situação?

Mais exemplos de frases prontas:

Take your time.
You’ve got the point.
I’ll do what it takes.
I wish I could.
I feel more like going this time.
It’s about time to go.
Just in case.
Shall we go now?
Yes, let’s.
Merry Christmas!
How old are you?
What for?
May I help you?
Will you marry me?
Once upon a time...
Just close the door.
To whom it may concern
I hate to say good bye.
I’m already missing you.
Let me hear from you.