terça-feira, 23 de agosto de 2011

Entrevista - Walcyr Carrasco



Matéria do Guia Prático para Professores de Ensino Fundamental I (entrevista cedida por e-mail)

Walcyr Carrasco
Dos livros para a vida


Confira na entrevista a seguir como o autor acredita que a literatura pode combater o bullying e elevar a autoestima das crianças.


Por Vanessa Prata

Walcyr Carrasco é escritor, dramaturgo e autor de telenovelas, nascido em Bernardino de Campos (SP) em 1951. Formado em Jornalismo, trabalhou nos principais órgãos de imprensa do país e, no momento, escreve crônicas na revista Veja São Paulo, além da novela Morde & Assopra. Recentemente, lançou o livro Laís, a Fofinha, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (SP), sobre uma menina gordinha que sofre com gozações e apelidos dos colegas de escola. Confira na entrevista a seguir como o autor acredita que a literatura possa combater o bullying e elevar a autoestima das crianças.

Como a literatura infantil pode ajudar a aumentar a autoestima das crianças?
Walcyr Carrasco
– Acredito que a literatura infantil contribua para aumentar a autoestima das crianças de duas formas: primeiro a partir de uma condição íntima, em que a criança se relaciona com a história e com os personagens e absorve a experiência retratada. A partir daí, tira suas próprias conclusões e cresce interiormente. Em segundo lugar, temas ricos proporcionam debates ricos, não somente orientados pelo professor, mas também entre os alunos, que compartilham a história narrada no livro. Acredito que seja o caso de Laís, a Fofinha, pois a questão do ser ou não gordo e da forma física ideal hoje é uma preocupação de todas as idades, e a criança considerada acima do peso frequentemente sofre bulying. A discussão do tema pode evitar o bulying.

Como os livros podem conscientizar as crianças desde cedo sobre bullying ou problemas da obesidade?
Walcyr Carrasco
– À medida que a história é debatida, conceitos e valores são revistos. Hoje em dia muitas crianças são submetidas pela mídia e até pela própria família a padrões estéticos que, de fato, pouquíssimas pessoas atingem. Essa cobrança generalizada também se expressa por meio de agressões a colegas que são vistos como obesos. A criança obesa acaba se retraindo, achando que é "errada". O fato de um livro propor a discussão aberta e mostrar que esses padrões nem sempre são os desejados pela mídia pode ajudar a reconstrução de valores.

Como os professores devem agir ao perceber um caso de bullying ou de baixa autoestima nos alunos?
Walcyr Carrasco
– Acredito que o professor deva agir com sutileza, propondo a discussão dos temas e valorizando pessoas de sucesso que não correspondem a padrões. Nesse sentido a literatura ajuda muito, pois funciona como ponte para abrir a discussão em cima de temas polêmicos. A criança com baixa autoestima deve ser valorizada de alguma maneira. O professor pode buscar os aspectos em que ela é mais positiva e estimulá-los. O fundamental é mostrar aos alunos por meio da Literatura, de discussões em classe e trabalhos escolares que a diferença é essencial, e não um problema.

Como conversar com os alunos após grandes tragédias em escolas, como os crimes ocorridos em abril no Rio de Janeiro? A literatura infantil pode ajudar nesses casos também?
Walcyr Carrasco
– Lidar com tragédias sempre é difícil. A literatura ajuda até porque os contos de fadas tradicionais falam da violência de uma forma alegórica, que torna mais fácil ao aluno compreender. Mas é preciso ser claro em relação a valores e buscar formas de expressão, em que as crianças possam, pintando, desenhando, escrevendo, fazendo música, "soltar" a agressividade sem prejudicar o próximo. Mas não sou otimista. Minha convivência com uma psiquiatra especializada em psicopatas me diz que a psicose não tem cura. Começa a se evidenciar na infância e é muito difícil lidar com isso, quando o problema é realmente uma doença mental.

O livro foi lançado como parte do projeto cultural Lê Pra Mim? Qual a importância de pais e professores lerem para os alunos ainda não alfabetizados?
Walcyr Carrasco
– Fundamental! É uma oportunidade para a criança conviver com a literatura desde cedo. E mesmo já alfabetizada, de sentir a literatura como uma forma de compartilhar experiências. Além de tudo, ouvir uma história é sempre agradável, e as crianças devem entender a literatura como algo prazeroso e não como obrigação.

Como os livros podem competir com outras formas de entretenimento, como a televisão, o videogame e a internet?
Walcyr Carrasco
– Nunca vi problema nesse sentindo. Não há uma competição. Cada um tem seu fator de atração. Os livros muitas vezes perdem espaço simplesmente porque são apresentados como algo obrigatório. Não se dá à criança o espaço para viver uma experiência agradável, já que o livro muitas vezes está vinculado a trabalhos escolares, a avaliações, enquanto os outros meios são simplesmente lazer. Quanto mais a criança sentir que o livro é uma experiência de prazer, mais vai gostar de ler.

Matéria - Qual é a cor do amor?



Matéria do Guia Prático para Professores de Educação Infantil.

Qual é a cor do amor?

Professora de Minas Gerais integra Linguagem Oral, Matemática, Artes Visuais, Natureza e Sociedade com projeto de leitura

Por Vanessa Prata

A pedagoga Rosemeire Xavier, do colégio Casa de Brinquedo, em Vespasiano (MG), idealizou o projeto Qual É a Cor do Amor? com intuito de incutir hábitos de leitura desde cedo nas crianças e reforçar o prazer dessa atividade, tanto no âmbito da escola como no da família. “A leitura conjunta de um adulto com as crianças proporciona um envolvimento direto dos pequenos com o livro, tornando esta experiência vital, efetiva e divertida”, conta a pedagoga. No projeto, foram trabalhados diversos eixos temáticos, como Linguagem Oral, Natureza e Sociedade, Artes visuais, Culinária, Matemática e Movimento. Acompanhe algumas atividades desenvolvidas com a turminha.

Qual é a cor do amor?
Para começar, a professora espalhou cartazes na escola com a frase Qual É a Cor do Amor?, título do livro adotado para o projeto, e pediu que as crianças dessem sua opinião. “Alunos de outras turmas, professores e até os pais responderam nos cartazes também, gerando um envolvimento muito grande de toda a escola”, conta Rose.

Hora da Matemática
Após recolher os cartazes, que ficaram anexados na escola por três semanas, foi apurando o resultado sobre qual seria a cor do amor. A professora anotou na lousa as cores citadas, com ajuda das crianças, fez a contagem e questionou qual cor foi a preferida e qual foi a menos citada. “A mais citada foi a vermelha, por associação com o coração, mas também surgiu preto, roxo, cor-de-rosa e todas as cores do arcoíris”, diz a professora

Visita ao zoológico
No livro, um elefantinho cinzento queria descobrir a cor do amor e perguntava a todos seus amigos. Para aproximar os alunos do tema, a professora levou os alunos ao zoológico, para que vissem um elefante de verdade. Na ocasião, foi adotado também um elefantinho cinzento de pelúcia como mascote da turma, e as crianças fizeram uma votação para escolher o nome dele: Miolinho. Durante o passeio, a professora começou a contar a história e deixou o desfecho para que pais e filhos descobrissem qual seria a cor do amor.

Parceria com os pais
A cada semana, um aluno levava para casa o elefantinho e uma sacola literária, contendo o livro, um caderno para registrar a visita do mascote e para fazer uma enquete sobre qual seria a cor do amor, perguntando para os pais e familiares. Além disso, os pais deveriam ajudar os filhos a pesquisar curiosidades sobre os elefantes. Na escola, cada criança apresentava sua entrevista para os colegas e todos podiam opinar sobre as hipóteses dos entrevistados, manifestando também sua própria opinião, além de compartilhar as informações levantadas sobre os elefantes. “Foi curioso notar o envolvimento muito grande dos alunos, os pais comentavam que as crianças saíam perguntando sobre a cor do amor para todo mundo, até quando passeavam no shopping, por exemplo!”, conta Rose.

Vamos brincar com as cores
O projeto foi encerrado com uma festa das cores comemorando o aniversário do elefantinho cinzento na escola. Foi uma festa à fantasia, em que as crianças escolheram as cores de que mais gostavam para ter destaque na roupa e cantaram parabéns para o Miolinho. No dia da festa, as crianças fizeram a brincadeira do Elefante Colorido, que funciona assim: a professora diz “elefante colorido”, e as crianças perguntam “qual é a cor?”. Na sequência, a educadora responde determinada cor e os pequenos saem correndo à procura de algum objeto da cor solicitada.

Todas as cores do mundo
Durante a execução do projeto, alunos, familiares e a comunidade escolar se envolveram e demonstraram alegria e satisfação em participar, relatando a importância de inserir a ludicidade no estímulo à leitura e de construir vínculos afetivos entre família e escola. “O projeto foi muito envolvente e divertido, e foi importante ressaltar que por meio da literatura pode-se aprender brincando!”, comenta Rose. Ficou curiosa para saber qual a cor do amor? Sem querer estragar o final do livro, Rose ressalta que a mensagem final é a valorização das diferenças: “Não há uma única cor para representar o amor, cada um tem sua opinião e deve ser respeitada”.

sábado, 20 de agosto de 2011

O livro e a tecnologia

Enviado por Ciça Lopes

O seguinte link te levará a um vídeo no youtube no mínimo curioso, para para pensar sobre o livro e a tecnologia. Está em espanhol com legendas em português.
http://www.youtube.com/watch?v=_an5z2lxXH4&feature=related

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Táxi vira biblioteca móvel

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gilbertodimenstein/960358-taxi-vira-biblioteca-movel.shtml

Táxi vira biblioteca móvel

Gilberto Dimenstein

Essa é daquelas ideias simples para melhorar a qualidade de vida da cidade --e não custa absolutamente nada. Faz parte do que chamo o milagre das pequenas coisas. Chama-se bibliotáxi, lançada nesta semana pelo motorista Antônio Miranda na cidade de São Paulo (o detalhamento está no catracalivre.com.br).

Ele transformou seu táxi numa pequena biblioteca, a partir de livros doados por seus passageiros. Os livros ficam à disposição não apenas para ser lidos durante a corrida. Podem ser levados para casa e, depois, entregues para outra pessoa ou devolvidos para o táxi. A comunidade ajuda a manter o estoque e estimula novas doações. A ideia agora é envolver novos motoristas.

Isso significa que, se essa ideia der certo, podem-se criar, sem nenhum custo, centenas de bibliotecas móveis por uma cidade. Imagine se, no Brasil, ideias desse tipo pudessem pegar não apenas num táxi, mas nos ônibus.

No milagre das pequenas coisas, às vezes surgem grandes soluções. É a habilidade de pensar grande fazendo pequenos gestos.

domingo, 14 de agosto de 2011

Artigo - O que é que eu ganho com isso?


Confira um artigo escrito por Rose Souza, sócia-diretora da Companhia de Idiomas.


“E eu me pergunto se realmente observamos, refletimos, concluímos algumas coisas, disso que acontece e tanto nos diz respeito, como o pão, o café, o salário, a vida. Lutamos pela honra, pela melhor administração, pela segurança, pela decência, pela confiança que precisamos depositar nos líderes, nos governantes, nos nossos representantes? Ou nos entregamos ao fluxo das ondas, interessados muito mais no novo celular, no iPod, no iPad, no tablet, na troca da geladeira, na TV nova, no carro dos sonhos, pago em oitenta prestações impossíveis?”

Lya Luft, escritora e articulista da Veja, em seu ótimo artigo da edição 2222, resume um pouco do que eu sinto sobre o tipo de cidadão que nos tornamos. Passamos a vida ligados a organizações que, com incríveis campanhas publicitárias, definem as escolhas que deveriam ser nossas, porque deixamos. Juntamente com o governo e as religiões, as empresas dizem o que devemos ou podemos fazer. Assim vivemos em uma sociedade baseada na tríade tecnologia, consumo e lucro que, só há bem pouco tempo, começa a se sensibilizar de forma mais consistente com questões ecológicas (em que o ser humano está inserido), com nossa responsabilidade social e aspectos comportamentais, fruto do autoconhecimento. A ciência começa a comprovar finalmente o efeito da fé, do stress, das relações pessoais e da mente sobre o nosso organismo, e isso muda todos os paradigmas científicos.

Nesse contexto, a educação tem papel fundamental, pois é capaz de transformar a sociedade e a mudar a história. A dinâmica e a velocidade cada vez maior das mudanças sociais, culturais, econômicas e políticas não se comparam ao passado, quando qualquer mudança significativa exigia o tempo de uma geração para ocorrer. Hoje, ocorrem em minutos e são imprevisíveis. Trata-se da “era da incerteza” ou “era da descontinuidade”, como chamou Peter Drucker.

No Brasil, a ampla e desenfreada oferta de cursos de nível superior gera a predominância de critérios econômicos e utilitaristas. Econômicos, pois as universidades particulares hoje são empresas muito bem geridas, cujos resultados estão pautados no lucro e na força da marca. Utilitaristas, pois seus cursos atendem menos a objetivos acadêmicos, científicos e de pesquisa, para apenas formar profissionais para o mercado de trabalho. Para atender a esses critérios, a educação no ensino superior se limita muitas vezes à distribuição de conteúdos, logicamente estruturados, em um processo centrado no eixo da transmissão-assimilação de informações, do professor para o aluno. Especialmente em cursos de curta graduação, é incomum encontrarmos uma aula diferente da tradicional. A consequência é o pouco interesse dos alunos pela pesquisa e aprofundamento dos temas, a ausência do debate, minimizando a possibilidade de aprendizado entre os alunos, uns com os outros, e todos com o mundo.

Quando esses estudantes saem da universidade, o que vemos são profissionais no mercado de trabalho esperando que o “conteúdo” seja passado pelo “chefe” para ele reproduzir. A universidade não está formando seres capazes de questionar, criar algo novo, se comprometer com o processo e com o resultado, sem a necessidade de monitoramento ou pontos positivos que, no mundo corporativo foram renomeados como bônus? Aqueles alunos que só se moviam por nota hoje são os profissionais que só se movem por bônus adicionais? A pergunta não é “o que eu posso aprender com isso?”, mas o surrado “o que eu ganho com isso?”. Um professor recentemente me perguntou quanto ele ganharia para compartilhar uma atividade no site de compartilhamento, criado pela Companhia de Idiomas. Um ambiente que recebe as atividades desenvolvidas pelos professores, proporcionando mais qualidade às aulas e menos tempo de preparo, pois cada professor pode postar uma atividade e ter acesso a várias! Não seria um exemplo do “o que eu ganho com isso?” Como contraponto, a professora Carolina Saotome abriu um espaço para compartilhar experiências com os professores, no Facebook. E, cada vez mais, professores se interessam em participar dos nossos workshops, que estão lotando, para refletir sobre o ensino de idiomas, com seus pares. Bons exemplos, provando que ainda estamos cercados de excelentes profissionais, pessoas, cidadãos. Ainda há esperança, Lya Luft!

Rosangela de Fátima Souza (Rose) é fundadora e sócia-diretora da Companhia de Idiomas, tradutora-intérprete, especialista em Gestão Empresarial com MBA pela FGV e aluna do curso de Docência de Nível Superior da FGV.