Matéria minha para a
Revista Young.
Profissões do futuroFique por dentro das áreas que devem ter destaque nos próximos anos e dos novos cargos que tendem a surgir
Está prestando vestibular ou ainda indeciso sobre que carreira seguir? Embora não seja possível prever o futuro, algumas tendências de hoje ajudam a identificar como será o mercado de trabalho dos próximos anos e podem ajudá-lo na escolha. “Uma área que está ganhando destaque é a da economia verde, carreiras como engenharia ambiental e gestão de meio ambiente e projetos relacionados à sustentabilidade e reciclagem. Outra vertente é a sigla em inglês STEM – Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, áreas que também tendem a se desenvolver muito e gerar grande demanda em função do desenvolvimento econômico do país, com o pré-sal, por exemplo”, afirma Arnoldo de Hoyos, presidente no
NEF – Núcleo de Estudos do Futuro, ligado à PUC-SP.
Além dessas áreas, e em função dos grandes eventos esportivos que o Brasil sediará, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, carreiras ligadas à comunicação, turismo e lazer, esporte e relações internacionais também devem estar em alta nos próximos anos. “Esses eventos exigem uma infraestrutura muito grande, que o Brasil ainda não dispõe, por isso há muitas oportunidades à vista, tanto na construção civil como na prestação de serviços e na geração de informações antes dos jogos e durante eles”, diz Daniel Estima de Carvalho, professor do
Profuturo, Programa de Estudos do Futuro, da FIA – Fundação Instituto de Administração.
Novos cargosUma pesquisa do Profuturo, com projeção para 2020, identificou também novos cargos que terão destaque nos próximos anos e que hoje ainda não existem ou são incipientes. O número 1 da lista seria o
gerente de ecorrelações, profissional que irá se comunicar e trabalhar com consumidores, grupos ambientais e agências governamentais para desenvolver e maximizar programas ecológicos. Na sequência, viria o
chief innovation officer, cuja função será interagir com os funcionários em diferentes áreas da organização para pesquisar, projetar e aplicar inovações. “Os papéis serão cada vez mais abrangentes, o gerente de ecorrelações precisa ter uma formação voltada para marketing, mas também tem que entender de direito ambiental, enquanto o chief innovation officer flutuará entre várias áreas, buscando as melhores ideias tanto em finanças como em marketing, por exemplo”, comenta Daniel.
Na terceira posição da pesquisa, aparece o
gerente de marketing e-commerce, responsável por gerenciar o desenvolvimento e implementação de estratégias de web sites para vender produtos e serviços pela Internet e desenvolver o uso da web 2.0, que permite maior interação com os clientes.
Outro cargo inexistente hoje, e bastante curioso, apontado pela pesquisa será o
conselheiro de aposentadoria, responsável por ajudar as pessoas a planejarem sua aposentadoria, tanto financeiramente como emocionalmente ou mesmo se recolocarem no mercado ou abrirem o próprio negócio após se aposentarem. A pesquisa indica ainda que haverá o cargo de
coordenador de desenvolvimento da força de trabalho e educação continuada, responsável por gerenciar programas para ajudar funcionários qualificados a atingir níveis avançados em suas áreas de especialização. A área de saúde também deve se aprimorar com os
bioinformationists, cientistas que trabalharão com informação genética, servindo como uma ponte para cientistas que trabalham com o desenvolvimento de medicamentos e técnicas clínicas. “Os resultados da pesquisa apontaram que a ênfase crescente na inovação, a busca por qualidade de vida e a preocupação com o meio ambiente serão importantes impulsionadores na determinação das carreiras mais promissoras nos próximos anos”, completa Daniel.
Blogueiro profissional
Uma matéria do jornal
Folha de S.Paulo de 23 de agosto de 2009 apontou ainda outro cargo que está engatinhando, mas que deve crescer nos próximos anos: o “blogueiro profissional”, responsável não apenas por manter os blogs corporativos das empresas, mas pelo relacionamento com os clientes por meio de redes sociais como Orkut, Twitter e Facebook.
Em julho, 21,9 milhões de pessoas navegaram por blogs no país - o equivalente a 60% dos internautas ativos, segundo o Ibope Nielsen Online. Com a crescente preocupação das empresas em acompanhar as novas mídias, profissionais antenados com essas tecnologias devem ganhar espaço, com a criação de cargos como gerente de redes sociais ou analista de mídias sociais.
“Blogueiros profissionais são produtores de conteúdo autônomos, porém esse não é o maior atrativo para contratá-los, pois para a tarefa de produção de conteúdo o jornalista acaba fazendo o trabalho com mais qualidade. A grande vantagem do blogueiro é sua experiência no uso de ferramentas web 2.0 e sua habilidade em utilizá-las para gerenciar o relacionamento da empresa com seu público alvo”, diz Edney Souza, diretor de operações da Pólvora! Comunicação, consultoria especializada em mídias sociais. “O blogueiro deve estudar novas ferramentas sociais, cuidar da presença da empresa nesses canais e ser uma interface com todas as áreas que detêm o conhecimento dos produtos e serviços e que podem efetivamente resolver os problemas dos clientes”, acrescenta.
Empreendedorismo
O mercado de trabalho também oferece boas oportunidades para quem pretende abrir o próprio negócio. A pesquisa da FIA citada anteriormente aponta que hoje o empreendedorismo responde por 12,8% da PEA (População Economicamente Ativa) do país e a tendência é que em 2020 chegue a 17%. “Há uma lenda que as pessoas só viram empreendedoras no Brasil por falta de opção, após perderem o emprego, por exemplo. Mas isso não é verdade, cada vez mais pessoas estão avaliando a abertura de seu próprio negócio como uma oportunidade real de crescimento”, comenta Daniel.
A pesquisa indica ainda que as relações de trabalho sofrerão alterações significativas nos próximos anos, com uma diminuição dos postos de trabalho formais e, consequentemente, muitos profissionais terão que criar seu próprio emprego. Além disso, com a melhora da educação e dos índices sociais, além do incentivo e orientação do governo e de órgãos como o Sebrae, haverá uma tendência de aumento da atividade empreendedora no Brasil. Até 2020 teremos um número maior de profissionais com ensino superior no Brasil e já há um crescimento de palestras, seminários, revistas e livros sobre empreendedorismo, além do fato de que empresas, universidades e cursos de MBA enfatizam a necessidade de empreender.
O empreendedorismo também é citado na pesquisa como uma busca por satisfação pessoal e independência, aumento da renda familiar e como alternativa de trabalho após a aposentadoria.
Segundo a pesquisa, as oportunidades de negócios estão principalmente no setor de Serviços, em áreas como Saúde e Qualidade de Vida, Turismo e Lazer, Alimentação, Serviços para a Terceira Idade e Consultorias Especializadas (Sustentabilidade, Desenvolvimento de Carreira, Consultoria Pessoal, Planejamento Financeiro e Consultoria Empresarial).
Antes de abrir o próprio negócio, no entanto, pesquise muito, faça cursos e converse com profissionais da área para evitar o mesmo destino de 29% das novas empresas paulistas, que fecham as portas antes de completar um ano de atividade, segundo pesquisa do Sebrae-SP.
Prepare-se para o futuroAs relações de trabalho já estão mudando, e essa mudança tende a se acelerar, o que exige profissionais mais preparados para esse novo mercado. “Os jovens precisam se adaptar às novas tecnologias e ao trabalho colaborativo, muitas vezes à distância e terceirizado. É necessário ainda que tenham uma formação mais interdisciplinar, saibam lidar com problemas mais complexos, sejam fluentes em línguas, pelo menos Inglês e Espanhol, e tenham boa cultura geral”, recomenda Arnoldo de Hoyos.
Apenas boa formação, no entanto, não é suficiente para garantir aos jovens o ingresso ao mercado de trabalho. Na coluna de Gilberto Dimenstein, publicada em 27 de setembro de 2009 na
Folha de S.Paulo, o jornalista cita que, em 2008, 730 mil universitários e recém-formados se candidataram a 2.334 vagas de estágio e trainees, mas 10% das vagas não foram preenchidas. Alguns motivos são explicados na coluna pela psicóloga Sofia Esteves, presidente da empresa de recrutamento
Cia. de Talentos: má formação (não ter fluência em Inglês, por exemplo), dificuldade de expressar com clareza uma ideia e uma carência de comprometimento. Muitos candidatos são cortados simplesmente porque não vão às entrevistas.
Além disso, uma pesquisa da Cia. de Talentos com 31 mil universitários evidenciou um conflito de gerações – as empresas não estão entendendo os jovens, formados na chamada era da informação, e os jovens não entendem o que as empresas pedem. A pesquisa mostrou que quase todos os universitários que disputaram vagas de trainee e de estágio estão habituados a navegar em redes sociais, como Orkut e Facebook, mas formam uma geração que não aprendeu a reverenciar hierarquias, e o que existe de habilidade para tarefas simultâneas e velozes, falta em foco e aprofundamento.
Desenvolver características como resiliência, inteligência emocional e capacidade de trabalhar em equipe, portanto, já são pontos-chaves para o sucesso profissional hoje e serão ainda mais importantes nos próximos anos.
Ficar por dentro das áreas mais promissoras, ter boa formação, comprometimento e vontade de crescer são essenciais, mas Arnoldo cita ainda outro ponto que o jovem de hoje deve levar em consideração ao escolher uma carreira: “Siga aquilo que faz você feliz. Não adianta procurar algo que não o motiva só porque está na moda ou é uma ‘carreira de futuro’ se você não tiver vocação e não gostar do que faz”.