Todos que me conhecem mais intimamente sabem que sou muito cética, mas desta vez tenho que aceitar a existência de "algo" me protegendo ou, no mínimo, acreditar que "cada um tem sua hora".
Sexta-feira passada estava nesse ônibus acima, que capotou por volta das 23h a poucos quilômetros de Parati, meu destino para participar da FLIP - Festa Literária Internacional de Parati. Quatro pessoas faleceram, inclusive uma criança e o motorista, e mais de 20 ficaram feridas. Quanto a mim, nenhum arranhão! Sequer quebrei os óculos ou perdi algum bem de valor.
O fato de estar com o cinto de segurança certamente ajudou muito. Permaneci presa na poltrona e, assim, não bati a cabeça nem outra parte do corpo, a não ser uma leve batida na perna. Em poucos segundos, ao perceber que estava bem, consegui sair do ônibus sozinha e não cheguei nem mesmo a me cortar com os cacos de vidro espalhados, exceto por um microcorte na mão, parecido com aqueles que fazemos com uma folha de papel.
Só o cinto, porém, não explica o fato de ter saído ilesa, pois outras pessoas poderiam ter caído sobre mim, ou objetos de dentro do ônibus poderiam ter me atingido. Ou, ainda, mesmo sem ter me machucado, poderia ter entrado em pânico, o que também não aconteceu. Ao contrário, apesar de ser extremamente ansiosa, consegui pedir calma a quem estava mais nervoso do que eu, sair rapidamente do ônibus e achar um celular que funcionasse (o meu, da Claro, não tinha sinal, claro!) para ligar para casa após saber que já haviam chamado o resgate. Além disso, já viajei de ônibus várias vezes sem cinto, principalmente depois da última parada, em que acreditamos que estamos quase chegando, mas dessa vez "algo" me fez manter o cinto o tempo todo...
E ainda tropecei literalmente na minha própria mochila, onde estava também minha carteira. O único objeto que acreditei ter perdido na hora foi um cantil, que pouco tempo depois foi encontrado por Stela, passageira que veio ao meu lado e também não se feriu (aproveitando, vou cobrar merchandising da Camelbak para dizer que o cantil realmente é inquebrável).
A primeira pessoa que apareceu para nos socorrer foi, ironicamente, um motoboy, profissão das mais odiadas pelos motoristas paulistanos. Os bombeiros chegaram rapidamente, mas tiveram trabalho para resgatar algumas vítimas que ficaram presas no ônibus. Uma equipe de TV local que estava cobrindo o evento da FLIP também chegou logo e me entrevistou, daí os 15 minutos de fama do título, além de ter saído na Folha de S.Paulo.
Apesar de estar tremendo ao sair do ônibus, as primeiras lágrimas só vieram cerca de 2 horas depois do acidente, e o choro de verdade lá pelas 5 da manhã, quando já estava no quarto do hostel em que me hospedei, e onde virei "celebridade" também, infelizmente após um susto desses.
Coincidentemente, estou lendo o livro Você está louco!, de Ricardo Semler, no qual, apesar de ser um livro de administração e negócios, ele também descreve um acidente que sofreu, só que de carro e com ferimentos graves, ao contrário de mim.
Enfim, o que aprendi com tudo isso? Que tinha que passar por uma situação dessas para dar o devido valor às coisas boas e a devida dimensão aos demais problemas que enfrentamos, que tenho mais sangue frio do que imaginei, que temos que usar cinto de segurança sempre, que tudo pode se acabar de repente e que vale mesmo a pena visitar a FLIP. Para aliviar a tensão, fotos bonitinhas em vanessaprata.blogspot.com.
PS: Depois de ter escrito o texto me toquei que fiquei hospedada num hostel chamado Casa da Aventura... só não imaginava que a "aventura" começaria antes de chegar...