Entrevista por email ao Guia Prático para Professores de Ensino Fundamental I (ed. nov)
Entrevista - Caco Galhardo
Quadrinhos na sala de aula
Gibis e tirinhas podem ser importantes ferramentas para estimular a leitura e trabalhar a interdisciplinaridade
Por Vanessa Prata
O paulistano Caco Galhardo publica desde 1996 sua tira Os Pescoçudos no jornal Folha de S.Paulo e tem seis livros publicados, entre eles Dom Quixote em Quadrinhos (Ed. Peirópolis), que terá a segunda parte lançada no início de 2012. Seus trabalhos são frequentemente publicados em diversas revistas e alguns de seus personagens já viraram animações nos canais MTV e Cartoon Network. Na entrevista a seguir, o cartunista mostra como os quadrinhos podem ser uma ferramenta pedagógica em sala de aula.
Como as histórias em quadrinhos podem ser uma ferramenta pedagógica?
Caco Galhardo – As crianças e o público jovem se amarram em quadrinhos. As adaptações em HQ acabam servindo como “portais” para as obras originais. É um meio muito eficiente e prazeroso de introduzir as grandes obras da literatura.
Os quadrinhos podem ser utilizados para integrar disciplinas, como Português, Artes, História, entre outras?
Caco Galhardo – Acho que podem servir para tudo. Dom Quixote, por exemplo, além da literatura, serve como excelente registro de época. E artistas de diversas épocas, desde Doré a Picasso e Portinari, já desenharam o Quixote, o que poderia muito bem entrar no ensino de Artes.
Ao pedir que os alunos criem suas próprias histórias em quadrinhos, como lidar com os alunos que dizem que “não sabem desenhar”?
Caco Galhardo – Eles podem trabalhar em duplas. O que não sabe desenhar escreve o roteiro e o outro desenha. Ou até vale contar histórias com “palitinhos”. Não saber desenhar não é um impedimento. Nos quadrinhos, tudo pode ser resolvido em poucos traços, contanto que esses traços consigam representar os elementos da narrativa.
Como o professor pode ajudar o aluno a estruturar a história e os personagens?
Caco Galhardo – Não sou o cara mais indicado para tratar de métodos pedagógicos, mas, como autor, sugiro seguir a ordem: criação de argumento, desenvolvimento de personagens com desenhos, roteirização da história, storyboard e a arte final. Muita gente acha que quadrinhos é fácil, quando na verdade é um negócio muito trabalhoso. Mas muito prazeroso também. Se o professor quiser desenvolver um projeto com HQ em classe, sugiro que pense em um período de no mínimo três meses.
Quais algumas dicas básicas para quem quer começar a desenhar quadrinhos?
Caco Galhardo – Quadrinhos têm tudo a ver com prática de desenho e muita observação. Tem que andar sempre com um caderninho a tiracolo e exercitar o desenho diariamente. E observar, desde as pessoas que estão a sua volta até as técnicas dos mestres. Meu trabalho de humor é 100% observação.
Histórias em quadrinhos podem ser usadas também para lidar com casos de bullying, baixa autoestima dos alunos ou outros problemas de comportamento?
Caco Galhardo – História em quadrinho é uma forma de narrativa de fácil assimilação e compreensão, que pode lidar com qualquer tema. Basta aprender alguns conceitos básicos e sair desenhando. Todo mundo entende quadrinhos.
O humor é fundamental numa história em quadrinhos, ou as tirinhas podem tratar de temas mais “sérios”, mesmo com crianças?
Caco Galhardo – HQs adultas não precisam ter nenhum comprometimento com humor. É algo que diz respeito ao estilo do autor. Há HQs com super-heróis, mangás, temas históricos, autobiográficos... tem para todo gosto e estilo. No que diz respeito a infantis, a presença do humor é mais forte, mas até hoje me lembro de HQs do Maurício de Souza muito bonitas e poéticas, com um pequeno toque de humor de fundo. Se o professor não tiver essa veia humorística, pode seguir outros caminhos, sim.
Como surgiu a ideia de adaptar um clássico da literatura, como Dom Quixote, para o universo HQ?
Caco Galhardo – A ideia veio de Denyse Cantuária, na época editora da Peirópolis. Desde o começo ela achava que os quadrinhos tinham grande poder de penetração nas escolas e me convidou para adaptar um clássico. No meio da conversa, ela citou Dom Quixote e uma luz se acendeu em minha cabeça. Dom Quixote em Quadrinhos inaugurou todas essa nova leva de adaptações de clássicos em HQ.
Como dica de leitura, quais seus quadrinhos favoritos?
Caco Galhardo – Entre as HQs infanto-juvenil destaco: Asterix (sempre um clássico, criado pela dupla de franceses René Goscinny e Albert Uderzo), Aventuras de Tintim (Hergé), Turma do Pererê (Ziraldo) e Mortadelo e Salaminho (Ibáñez). Entre os quadrinhos adultos, recomendo sempre o Maus, de Art Spiegelman, uma das melhores obras já produzidas sobre os judeus a segunda guerra, e qualquer obra de Will Eisner.
Entrevista - Caco Galhardo
Quadrinhos na sala de aula
Gibis e tirinhas podem ser importantes ferramentas para estimular a leitura e trabalhar a interdisciplinaridade
Por Vanessa Prata
O paulistano Caco Galhardo publica desde 1996 sua tira Os Pescoçudos no jornal Folha de S.Paulo e tem seis livros publicados, entre eles Dom Quixote em Quadrinhos (Ed. Peirópolis), que terá a segunda parte lançada no início de 2012. Seus trabalhos são frequentemente publicados em diversas revistas e alguns de seus personagens já viraram animações nos canais MTV e Cartoon Network. Na entrevista a seguir, o cartunista mostra como os quadrinhos podem ser uma ferramenta pedagógica em sala de aula.
Como as histórias em quadrinhos podem ser uma ferramenta pedagógica?
Caco Galhardo – As crianças e o público jovem se amarram em quadrinhos. As adaptações em HQ acabam servindo como “portais” para as obras originais. É um meio muito eficiente e prazeroso de introduzir as grandes obras da literatura.
Os quadrinhos podem ser utilizados para integrar disciplinas, como Português, Artes, História, entre outras?
Caco Galhardo – Acho que podem servir para tudo. Dom Quixote, por exemplo, além da literatura, serve como excelente registro de época. E artistas de diversas épocas, desde Doré a Picasso e Portinari, já desenharam o Quixote, o que poderia muito bem entrar no ensino de Artes.
Ao pedir que os alunos criem suas próprias histórias em quadrinhos, como lidar com os alunos que dizem que “não sabem desenhar”?
Caco Galhardo – Eles podem trabalhar em duplas. O que não sabe desenhar escreve o roteiro e o outro desenha. Ou até vale contar histórias com “palitinhos”. Não saber desenhar não é um impedimento. Nos quadrinhos, tudo pode ser resolvido em poucos traços, contanto que esses traços consigam representar os elementos da narrativa.
Como o professor pode ajudar o aluno a estruturar a história e os personagens?
Caco Galhardo – Não sou o cara mais indicado para tratar de métodos pedagógicos, mas, como autor, sugiro seguir a ordem: criação de argumento, desenvolvimento de personagens com desenhos, roteirização da história, storyboard e a arte final. Muita gente acha que quadrinhos é fácil, quando na verdade é um negócio muito trabalhoso. Mas muito prazeroso também. Se o professor quiser desenvolver um projeto com HQ em classe, sugiro que pense em um período de no mínimo três meses.
Quais algumas dicas básicas para quem quer começar a desenhar quadrinhos?
Caco Galhardo – Quadrinhos têm tudo a ver com prática de desenho e muita observação. Tem que andar sempre com um caderninho a tiracolo e exercitar o desenho diariamente. E observar, desde as pessoas que estão a sua volta até as técnicas dos mestres. Meu trabalho de humor é 100% observação.
Histórias em quadrinhos podem ser usadas também para lidar com casos de bullying, baixa autoestima dos alunos ou outros problemas de comportamento?
Caco Galhardo – História em quadrinho é uma forma de narrativa de fácil assimilação e compreensão, que pode lidar com qualquer tema. Basta aprender alguns conceitos básicos e sair desenhando. Todo mundo entende quadrinhos.
O humor é fundamental numa história em quadrinhos, ou as tirinhas podem tratar de temas mais “sérios”, mesmo com crianças?
Caco Galhardo – HQs adultas não precisam ter nenhum comprometimento com humor. É algo que diz respeito ao estilo do autor. Há HQs com super-heróis, mangás, temas históricos, autobiográficos... tem para todo gosto e estilo. No que diz respeito a infantis, a presença do humor é mais forte, mas até hoje me lembro de HQs do Maurício de Souza muito bonitas e poéticas, com um pequeno toque de humor de fundo. Se o professor não tiver essa veia humorística, pode seguir outros caminhos, sim.
Como surgiu a ideia de adaptar um clássico da literatura, como Dom Quixote, para o universo HQ?
Caco Galhardo – A ideia veio de Denyse Cantuária, na época editora da Peirópolis. Desde o começo ela achava que os quadrinhos tinham grande poder de penetração nas escolas e me convidou para adaptar um clássico. No meio da conversa, ela citou Dom Quixote e uma luz se acendeu em minha cabeça. Dom Quixote em Quadrinhos inaugurou todas essa nova leva de adaptações de clássicos em HQ.
Como dica de leitura, quais seus quadrinhos favoritos?
Caco Galhardo – Entre as HQs infanto-juvenil destaco: Asterix (sempre um clássico, criado pela dupla de franceses René Goscinny e Albert Uderzo), Aventuras de Tintim (Hergé), Turma do Pererê (Ziraldo) e Mortadelo e Salaminho (Ibáñez). Entre os quadrinhos adultos, recomendo sempre o Maus, de Art Spiegelman, uma das melhores obras já produzidas sobre os judeus a segunda guerra, e qualquer obra de Will Eisner.