quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Matéria - Eu respeito. E você?



Matéria do Guia Prático para Professores de Ensino Fundamental I (ed. outubro).

Eu respeito. E você?


Professora de Olinda (PE) desenvolveu projeto para sensibilizar os alunos sobre as necessidades e habilidades das pessoas com deficiência


Por Vanessa Prata

Conscientizar os alunos de que as pessoas com deficiência são cidadãos com direitos e deveres, criar uma cultura de respeito a elas e observar como é possível a comunicação entre elas e o meio foram alguns dos objetivos do projeto Eu Respeito. E Você?, da professora Maria das Graças Fernandes, do Colégio Santa Emília, em Olinda (PE). O projeto durou quatro meses, com início em agosto de 2010, durante a Semana Estadual de Pessoas com Deficiência, e terminou em novembro, com uma exposição na escola de tudo o que foi realizado pelos alunos.

“Criamos esse projeto, em primeiro lugar, porque nossa escola é inclusiva e convivemos com alunos que chamamos carinhosamente de ‘Amigos Especiais’, como a Rebeca, que tem deficiência motora e de fala, estuda conosco desde o Infantil e estava na minha sala durante o projeto”, comenta Maria das Graças. “Em segundo lugar, porque em nosso convívio nos deparamos com várias situações em que, muitas vezes, temos que parar e refletir se estamos preparados como cidadãos para lidar com elas da melhor forma possível, sem constranger a nós e principalmente às pessoas com deficiência. Por isso, abordamos o assunto de forma a despertar nos alunos e na sociedade a consciência do respeito aos direitos das pessoas com deficiência, promovendo a inclusão social delas”, acrescenta. Confira algumas ações desenvolvidas no projeto.

Vamos nos comunicar?

Para introduzir o tema em sala, a professora orientou os alunos a coletar dados em jornais, revistas e na internet, além de realizar observações no bairro, com o objetivo de registrar a existência de acessibilidade para as pessoas com deficiência. Os alunos também observaram no ambiente que tipo de produtos e materiais possibilita a comunicação entre o meio e a pessoa com deficiência, como cardápios em Braille, por exemplo, coletados em restaurantes. Maria das Graças, que já participou de vários cursos de Libras (Língua Brasileira de Sinais), realizou oficinas no colégio para desenvolver a comunicação básica nessa língua, e os alunos leram também o livro paradidático Nós Falamos com as Mãos (Ed. Scipione).

Houve ainda uma palestra na escola com a professora Patrícia Monteiro, especialista em Braille, que abordou esse sistema usado por pessoas com deficiência visual para ler e escrever. Após as apresentações de Braille e Libras, os alunos sinalizaram cada ambiente da escola com esses sistemas, como a cantina, os banheiros, a coordenação etc. Outra atividade prática foi a confecção de plaquinhas com o nome de cada aluno, representado pelo símbolo correspondente em Libras. Para saber mais sobre como funciona o Braille, os alunos simularam a chamada cela Braille, uma espécie de régua com seis espaços que permite criar todo o alfabeto Braille. A “cela” foi feita com sucata, com uma caixa de leite encapada e tampinhas de refrigerante.

Visitas especiais

Além da palestra com a professora Patrícia Monteiro, os alunos também receberam a visita de Yuri Limeira Melo, que tem deficiência visual e mostrou como funciona o treinamento com um cão-guia. Outra visitante foi a aluna Luzia Eduarda, do Fundamental II, que também tem deficiência visual e contou aos colegas como é seu dia a dia.

Os alunos visitaram ainda o Instituto de Cegos de Pernambuco e o Centro Suvag de Pernambuco, para a reabilitação da audição e fala. Durante as visitas, as crianças entrevistaram pessoas com deficiência e puderam entender melhor como é a rotina delas. Os alunos também assistiram ao filme O Segredo de Beethoven, sobre a vida de Ludwig Van Beethoven, que mostra a sua gradativa perda de audição, o que não o impediu de ser um dos maiores gênios da música.

Representações e registros

Durante todo o projeto, várias formas de representação e registro foram usadas, como apresentação de peças de teatro sobre o tema, apresentação musical em Libras, oficina e criação de histórias em quadrinhos com situações vivenciadas no dia a dia por pessoas com deficiência (preconceito, falta de acessibilidade, superação, conquistas etc.), relatos de experiências e entrevistas com pessoas com deficiência e produção de textos com os temas O Surgimento do Sistema Braille e Nós Falamos com as Mãos, entre outras ações.

Ao final do ano, todo o trabalho foi apresentado na EXPOC, feira cultural do colégio, para toda a comunidade escolar, incluindo exposição de equipamentos para pessoas com deficiência, cedidos por pais de alunos e funcionários. A turma de Maria das Graças foi convidada ainda a participar da abertura dos Jogos Inclusivos de Olinda, fazendo a apresentação de uma música em Libras. Os pais também patrocinaram as camisetas, que foram utilizadas na feira cultural e nesse evento. "O projeto despertou nos alunos, na escola e na família a importância de se respeitar as pessoas com deficiência e de desenvolvermos a consciência sobre a necessidade de melhor a acessibilidade nos locais públicos", conclui a professora.