Artigo de Lígia Velozo Crispino, sócia-proprietária da Companhia de Idiomas, publicado em http://www.sbs.com.br/virtual/etalk/index.asp.
A influência do sotaque brasileiro na pronúncia da língua inglesa
O sotaque nada mais é do que a combinação da pronúncia das palavras, individualmente e dentro de um contexto, e a entonação que damos para as frases que produzimos. Já a pronúncia resulta de fatores como a vibração das cordas vocais, o posicionamento da língua e dos lábios, assim como a ênfase e duração dos sons enquanto se fala um idioma.
O sotaque pode ser uma barreira ou um fator limitante para a comunicação fluente em inglês. Quando essa influência é bastante acentuada, pode interferir na comunicação com interlocutores estrangeiros e até impedir o entendimento entre as partes. Quem tem muita interferência do português em sua pronúncia, normalmente, apresenta mais dificuldades na compreensão oral, em especial de nativos. Isso acontece porque a pessoa não reconhece as palavras, os registros não coincidem. No entanto, é possível minimizar o problema, embora seja quase impossível eliminá-lo.
A maioria dos brasileiros não atribui a importância necessária ao sotaque. Muitas vezes, as pessoas falam em inglês como se estivessem se comunicando em português, sem desenvolver o que chamamos de "ouvido bom" para perceber as nuances e diferenças entre os idiomas.
Uma das grandes diferenças entre os idiomas é a entonação, ou seja, o ritmo e a velocidade do discurso. Enquanto o inglês é uma língua sem grandes variações de entonação, o português, na ponta contrária, é rico em entonações diferentes e com amplas possibilidades para se dizer a mesma frase.
Nós, brasileiros, gostamos de enfatizar emoções e preferimos transmitir algumas mensagens através da ênfase em frases ou palavras soltas, o que não ocorre, com a mesma intensidade, no inglês. O resultado dessa diferença é que, quando falamos em inglês, costumamos manter a grande complexidade e variação de tons do português, o que nos dá um sotaque bastante característico, como se estivéssemos “cantando”.
Um bom exemplo dessa diferença entre os dois idiomas está em um aspecto simples da linguagem, que poucas pessoas já conseguiram perceber. Na comunicação oral em português, a diferenciação de frases afirmativas e interrogativas se dá pela entonação, e na comunicação escrita, pelo ponto de interrogação ao final da frase.
Já na comunicação em inglês, a mesma diferenciação se dá de forma mais intensa, pela inversão na estrutura da frase, o que dá menor importância ao papel da entonação, quando comparada ao português. Em inglês, a ênfase das frases interrogativas pode recair na metade da frase e em português, na maioria das vezes, recai no final delas. Exceções para os casos em que queremos enfatizar uma determinada palavra da frase.
Também vale lembrar que o português é um idioma mais nasal que o inglês. No entanto, há uma dica para não “transportarmos” para o inglês a nasalidade de nosso idioma: devemos reduzir a quantidade de ar que entra na cavidade nasal. Mas sem exageros! Se você cortar totalmente a corrente de ar, ficará parecendo que você está com o nariz entupido!
Para iniciar a tarefa de reduzir a influência do sotaque na comunicação oral em inglês, o mais importante é reduzir ao máximo a interferência do português. No plano prático, vale ter mais atenção para a pronúncia de verbos regulares no passado, com terminação em “ed”, e para as consoantes “g” e “j” que, em português, são pronunciadas de forma diferente.
Na comunicação oral dos brasileiros, as palavras terminadas em “t”, “d”, “n”, “p” e “k” costumam ganhar um “e” ao final, também por influência do português. Já as palavras terminadas em “m”, costumam ser pronunciadas em inglês em sua totalidade, ou seja, fechando a boca, diferente do português, que não a distingue do som da letra “n”. A diferença entre o som do “r” e do “h”, os brasileiros não fazem distinção entre essas duas letras no inglês.
Confira outras dicas simples, que podem ser incorporadas ao dia a dia, com grande eficiência na redução do sotaque na comunicação oral em inglês.
. Ouça o inglês e tente imitar o sotaque. Se possível, leia um texto junto com o CD, ou seja, seguindo o script;
. Assista a filmes com o áudio e legenda em inglês para comparar as diferenças entre a escrita e a fala e também para buscar alguns padrões fonéticos;
. Ouça programas de rádio em inglês pela Internet;
. Adquira o hábito de assistir a programas em inglês na TV a cabo;
. Compre um livro de pronúncia com CD. Há ótimos materiais nas livrarias;
. Grave a sua voz. Analise as gravações e procure detectar seus erros mais comuns. Se não conseguir fazer isso sozinho, peça a ajuda de um professor;
. Crie uma lista de palavras, expressões e frases que são frequentemente pronunciadas de forma incorreta. Trabalhe nesta lista, lendo e relendo até que fale corretamente;
. Compre livros em versão de CD e ouça-os em seu carro, durante o trânsito, ou em casa. Procure repetir algumas das frases e tente reproduzir como o autor fala.
. Leia em voz alta constantemente. Grave a sua fala enquanto estiver lendo. Ouça e repita as palavras inúmeras vezes;
. Procure entender os símbolos fonéticos que ficam após as palavras nos dicionários e antes das respectivas explicações. Ajuda a melhorar sua percepção das diferenças sonoras e peculiaridades da sua língua e da língua estrangeira que está estudando;
. Consulte dicionários on-line para checar a pronúncia das palavras, muitos deles têm a opção do som;
. Faça um curso de accent reduction (redução de sotaque), ou seja, de redução da interferência da sua língua materna. A Companhia de Idiomas oferece esse curso.