Link enviado por Ciça Lopes Você é daqueles que adora falar mal da dublagem ou da legendagem quando assiste a um filme estrangeiro, principalmente quando sabe o que os atores falaram no original? Então, conheça um pouquinho das dificuldades de se fazer esses trabalhos antes de sair criticando os "pobres tradutores" (eu também falava mal das legendas até começar a fazer a pós em Tradução...)
Texto e entrevista retirados do blog
http://jps-ltf-eterna-estudante.blogspot.com/2009/01/traduo-para-dublagem-e-legendagem.htmlTradução para dublagem e legendagemA tradução para dublagem e legendagem, embora seja reconhecida como das melhores por diversos países, ainda sofre restrições em nosso país. Muitas críticas existem em relação ao assunto, porém, a maioria das pessoas ignora como é realizado o trabalho do tradutor. Portanto, esse trabalho vem esclarecer alguns pontos para dirimir algumas dúvidas que ainda circula o profissional.
Dublagem
Deve-se respeitar a métrica, o movimento labial e a interpretação dos atores, o texto é dito de um modo que precisa ser muito natural. O dublador cede sua voz à interpretação, em idioma local de certo personagem, a fim de substituir a voz dos atores ou dubladores originais de filmes, animações, seriados, etc.
Particularidades na tradução para dublagem
O tradutor faz a adaptação da obra original ao idioma local, para ser utilizada pelo dublador.
Legendagem
Existem dois limites básicos – o número de caracteres que cabem na tela e o tempo de leitura necessário, proporcional ao número de caracteres. É calculado o número de caracteres da legenda de acordo com o tempo disponível. A boa legenda constitui uma forma de leitura que não desvie a atenção do espectador do filme e a ordem seja alterar o que se diz para tornar a mensagem mais simples; aliar precisão da informação, adequação do texto ao tempo de leitura, boa apresentação estética da legenda e estilo coerente com a fala original.
Legenda não deve ser produzida seguindo só o material-imagem, pois acaba realizando um texto que pouco combina com a cena em que ele se insere.
Particularidades na tradução para legenda
O material base normalmente é falado, caracterizado por elipses, anacolutos, hesitações, traços motivos e gestuais, sempre presente, configurando impressões paralelas ao que é dito.
Ritmo de fala e pausas retóricas tem que ser levadas em consideração.
Material ficcional, como filmes, seriados, não se pode perder de vista que cada personagem tem um jeito peculiar de falar, com competência lingüística diferente e, universo lexical apropriado à sua caracterização. O bom tradutor jamais esquecerá esses traços, para evitar a “pasteurização” de todas as falas, marcar e evitar em seu texto essa diversidade. Nesse sentido a tradução para legenda se aproxima da tradução literária.
O tradutor para legendas não pode perder de vista o caráter educativo que o seu texto apresenta, deve encontrar um equilíbrio entre a manutenção do coloquialismo e a competência discursiva do texto, assim garantindo o melhor produto final aos espectadores.
Além das limitações técnicas, que não podem ser burladas, sob pena capital para a qualidade final do produto “filme”, esbarra também na amplitude dos assuntos tratados. Dramalhões românticos, modernos e clássicos, filmes de máfia, de gangues negras, de gangues latinas, de esportes pouco praticados no Brasil, de brigas judiciais, dramas médicos, religião, filmes institucionais, técnicos... O tradutor de filmes encontra pela frente um pouco de muitas coisas, dos mais variados temas e áreas de conhecimento.
Há tipos de programação, principalmente os que envolvem transmissão de eventos, que não têm o roteiro, o que aumenta a possibilidade de haver erros de tradução. Dicção, sotaque, captação do som original, problemas de gravação, tudo isso dificulta o levantamento do texto e, por conseqüência, o trabalho do tradutor.
Traduzir para legendagem e dublagem é uma atividade que exige estudo e que se aprende com a prática, com muita transpiração e inspiração.
O fato de o Brasil ter uma das melhores dublagens do mundo tem também a contribuição de quem traduz.
As técnicas de tradução para legendagem e dublagem são muito específicas e muito diferentes entre si.
Trechos da entrevista sobre dublagem Elaine Pagano, tradutora de Pokémon!
- Olá Elaine. Primeiramente obrigado pela entrevista. Pra começar, por que não se apresenta? Olá, pessoal. Eu sou Elaine Pagano, tradutora para dublagem. Trabalho nessa área há 15 anos e gosto muito do que faço. Eu sempre gostei de assistir filmes e achava muito interessante como as pessoas conseguiam traduzir aquele filme ou desenho que eu estava assistindo, achava aquilo maravilhoso e resolvi estudar inglês, porque também adorava a língua, e em 1993, já com meu diploma embaixo do braço comecei a ir atrás dos estúdios de dublagem. (...) Durante esses 15 anos já traduzi muitas coisas como por exemplo: 24 horas, Pokémon, Bananas de Pijamas, Super Doll Lica-chan, Shin-Chan, Lost World (O Mundo Perdido), as novelas “Um amor de babá” (Record) e “Olhos d´agua” (Band), além dos filmes Dinotopia, Mentes Perigosas, Um drinque no Inferno I e II, A escolha de Sofia, Transamérica, etc... Nossa, foram centenas que eu não vou me lembrar de todos eles agora (risos).
- Vamos direto ao ponto. Como Pokémon caiu nas suas mãos?
Bom, logo que regressei dos EUA, minha 1ª casa foi na Parisi Vídeo, e na época eles dublavam “Pokémon” e “Yu-Gi-Oh!”, isso foi em 2002 [nota do editor: ano da dublagem do quinto ano de Pokémon]. Eles me passavam alguns episódios para traduzir, mas já existiam outros tradutores na casa que já faziam essas traduções, mas no Parisi eles não tinham o menor cuidado em deixar uma série com o mesmo tradutor, porque, sendo assim, o tradutor conhece os personagens desde o começo, sabe qual é a linguagem que determinado personagem usa, enfim, segue um padrão e o trabalho fica limpo, e também não tinham o profissionalismo de passar pelo menos um glossário para o tradutor sobre os golpes (no caso de Pokémon) ou sobre as cartas (no caso do Yu-Gi-Oh!), o tradutor tinha que se virar. Resultado: o tradutor que não sabia, traduzia a sua maneira, mais ao pé da letra, e acabava não dando muito sentido porque os diretores de dublagem também não se importavam muito com isso. Hoje em dia é diferente. A Centauro, que é a responsável pela dublagem do “Pokemon”, é uma empresa idônea, muito profissional e exige em 1º lugar qualidade e profissionalismo e oferece ao tradutor condições de trabalho para isso. Estou trabalhando com a Centauro há 3 anos e desde que cheguei lá e souberam que eu já havia feito alguns episódios no Parisi, imediatamente me passaram as séries por problemas com o antigo tradutor.
- Quais foram as dificuldades ao traduzir o oitavo ano de Pokémon, tendo em vista que a série tinha um tradutor fixo desde o terceiro ano?
Pois é, como eu disse, para um trabalho de série ficar perfeito é preciso acima de tudo entrosamento e profissionalismo entre as pessoas envolvidas, o que não aconteceu no 8º ano (que foi o meu 1º ano como tradutora Pokémon), uma vez que o antigo tradutor não me passou o glossário dos golpes e eu tive que fazer a tradução mais ao pé da letra e do que eu lembrava da época do Parisi(2002), foi muito difícil. A Centauro não teve culpa já que não tinha como fazer o ex-tradutor entregar isso.
- Qual sua posição sobre a ajuda que começou a receber a partir do nono ano? O que acha das séries que recebem ajuda de fãs na tradução e dublagem?
No 9º ano comecei a receber a ajuda do pessoal da “PokePlus”, que foi indispensável para a tradução ficar boa. Nada melhor do que quem conhece a fundo, curte e acompanha “Pokémon” para passar para o tradutor os nomes certos dos golpes. É indispensável a participação dos fãs! Gente, tradução é uma coisa muito pessoal, eu posso traduzir de uma forma e quem está assistindo ou lendo pode traduzir de outra e isso não quer dizer que esteja errado, é só a forma de colocar as palavras. Então, devemos esse título de 'Melhor Tradução e Adaptação' a vocês que me ajudaram a traduzir da melhor forma [nota do editor: A Elaine se refere ao primeiro lugar na votação popular de melhor tradução, que Pokémon ganhou com grande vantagem no "Oscar da Dublagem"].
- Levando em conta que recebemos muitos e-mails pedindo para usar nomes japoneses ao invés dos americanos, qual é o limite das mudanças que o tradutor pode fazer no texto?
Bom, gente, isso quem resolve é o cliente, é o distribuidor no caso, é ele quem determina o que quer, como ficarão os nomes. É ele também que escolhe as vozes que irão dublar tais personagens. Por exemplo, nomes de personagens nós, tradutores, não temos autorização para mudar.
- Acho que essa entrevista é ótima para justificar alguns erros que aconteceram na tradução. Os fãs querem saber: Por que o personagem Tracey foi considerado uma mulher? E como você lida com as críticas ao seu trabalho?
Vou contar um pouco da rotina do meu trabalho para vocês entenderam melhor esse processo. Eu recebo um script em inglês com os nomes dos personagens e suas falas e o vídeo que a Centauro me passa. Eu traduzo o texto e no final assisto ao episódio para ver se está tudo certo e se as falas que traduzi cabem na boca do personagem, já que temos que prestar atenção no “lip sinc” que é o sincronismo labial.
Especificamente no caso do Tracey: no script em momento algum especificava “he or she” [nota do editor: “ele” ou “ela” em português], eu não tinha como saber se era um personagem masculino ou feminino. Só nos últimos episódios foi que apareceu o personagem e vi que era masculino, mas desde o começo eles já haviam dublado como feminino e não dava mais para redublar, uma vez que os episódios já estavam no ar. Eu acho que as críticas são sempre construtivas, se são boas, ótimo, me sinto realizada, se não são boas, bom, vamos ver o que está errado para corrigir. O que me incomoda um pouco é o fato das pessoas não saberem qual o processo da tradução, da dublagem em geral, e começarem a falar mal sem pelo menos entenderem o porquê de tal erro ter ocorrido. Um dos maiores fatores para ocorrer algum erro é o fator tempo já que o cliente nos passa em cima da hora e quer tudo pronto para o dia seguinte. Tanto da minha parte como da parte da Centauro nós trabalhamos de maneira muito profissional e com muita responsabilidade e não queremos em hipótese alguma que haja nenhum erro.
- Você tem contato com a diretora da dublagem?
Tenho só quando há necessidade. Eu apenas faço a tradução e a diretora tem total autonomia para mudar a tradução como ela quiser, mas se ela muda alguma coisa do personagem eu sou avisada, caso contrário, eu continuo fazendo do mesmo jeito.
- Como que chega um episódio pra você e quais são os passos até o episódio voltar para a Centauro traduzido?
Eu recebo o script e o vídeo por e-mail, baixo o script, deixo baixando o vídeo que leva em média de 3 a 4 horas, (um episódio de 22 minutos) e vou traduzindo o script. Depois de traduzido, que também levo em média umas 4 horas para traduzir, eu acompanho o vídeo já com a tradução para ver o sincronismo, ver se está tudo certo, como no caso do Tracey, se ele já tivesse aparecido no desenho, eu saberia que se tratava de um menino e então eu teria corrigido, mas nesse caso específico ele só foi aparecer bem no final. Depois de revisado, eu envio a tradução por e-mail para a Centauro e daí é um outro processo até entrar no estúdio para a diretora gravar.
- Qual foi a série mais difícil de traduzir?
Eu acho que foi “24 horas”, tem muita fala, o tempo é muito curto e exige muita pesquisa porque usam termos muito técnicos.