quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Matéria - Globês

Texto enviado por Robert Hall

Após a revista Newsweek ter publicado recentemente uma capa sobre o "Globbish", agora foi a vez de o Estado de S.Paulo destacar o tema de um inglês simplificado. Mas, alunos, não se iludam, o "globês" ajuda na comunicação, mas nem sempre é suficiente.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100829/not_imp601973,0.php

Inglês, aliás, ''globês'', em 1,5 mil palavras
Versão simplificada é usada por quem não tem o idioma como língua materna
Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo
29 de agosto de 2010 0h 00


Com 1,5 mil palavras dá para falar inglês - ou melhor, "globês" (tradução livre de "globish"). É a teoria de Jean-Paul Nerrière, ex-diretor de marketing da IBM e idealizador da nova linguagem, usada sem perceber por dezenas de milhões. Atualmente, 96% das conversas em inglês envolvem pelo menos um interlocutor que não é nativo desse idioma. Mesmo em países como Estados Unidos, Grã-Bretanha e Austrália, milhões utilizam outra língua como primária.
"Meu sotaque entrega imediatamente que não sou americano, não sou inglês. Sou francês, claro. Mas essa forma de falar não me impediu de me dar bem em importantes empregos internacionais. Viajei para o Japão, Coreia do Sul, Ásia, as Américas", diz Nerrière, que criou uma empresa para ensinar globês - também para americanos e ingleses.
Robert McCrum, autor de Globish, livro que relata a história da transformação do inglês em língua global, diz que as principais transações comerciais são feitas nesse novo idioma. "Dow Jones + Microsoft = globês", escreve no livro, um dos mais vendidos nos EUA no mês passado.
O globês, além de se basear nas 1,5 mil palavras mais utilizadas do inglês - menos de 0,25% dos vocábulos existentes nos melhores dicionários -, tem regras simples. Expressões idiomáticas devem ser evitadas. Elas são desconhecidas de muitos que estudaram o inglês como segunda língua. É mais fácil substituí-las por palavras comuns.
As orações devem priorizar a forma direta e ser curtas. Devem ser evitadas questões na forma negativa, que podem levar a erro. Os estrangeiros precisam se munir de ilustrações para facilitar o entendimento. Piadas são proibidas - nem sempre estrangeiros captam humor em inglês.
Segundo McCrum, os que usam o inglês como segunda língua acham mais fácil falar entre si do que com um americano. Ou seja, é mais fácil para um israelense falar em inglês com um finlandês que com um irlandês - nesses casos, mesmo os americanos dizem ter dificuldade.
Polêmica. Nem todos concordam com essa teoria. "Realmente me sinto mais à vontade conversando com europeus (não britânicos) que com americanos. Mas acho mais difícil entender asiáticos", diz o colombiano Mario Chamorro, ex-presidente da Associação de Estudantes da Universidade Columbia, em Nova York. "Quando falo com apenas um americano, não acho complicado. Mas diante de um grupo, fica difícil seguir as piadas e as expressões", acrescenta.
A brasileira Gisela Piper, casada com um americano, diz achar "mais simples falar com americanos. Prefiro escutar o ator Jeff Bridges falando inglês que o Javier Bardem".
O globês também se mistura a outras línguas, como nota McCrum. "Em Mumbai, as pessoas falam uma mistura de hindi, urdu, gujarati, marathi e inglês", escreve ele em seu livro.
A classe média libanesa, quase sempre fluente em árabe, francês e inglês, apelidou a língua usada por muitos em Beirute como "hi, kifak, ça va", usando na mesma frase expressões como "habib, I love you beaucoup" ("querida, eu te amo muito").
Até na TV. As diferenças entre inglês e globês chegam à TV. Os americanos veem CNN, com apresentadores nascidos nos EUA, que falam inglês de Dallas, Atlanta e Chicago, como Wolf Blitzer. Na CNN International, a preferência é por estrangeiros que falem inglês, como Fareed Zakaria. Há âncoras nascidos na Síria, Irã, Argentina e Portugal.
Caso a pessoa fale apenas o globês, ela seria incapaz de entender 55 palavras de um total de 383 do editorial do New York Times de quinta-feira, conforme verificou o Estado com a ajuda de um software. Como escreveu o jornalista da New Yorker Isaac Chotiner, em sua crítica do livro de McCrum, "para muitos, o globês não será o bastante. Elas terão de aprender inglês".