Publico abaixo trecho de um artigo enviado por Carla Miranda, especialista em Psicopedagogia pela Universidade Bandeirante de São Paulo e professora de Inglês e Espanhol em uma escola de idiomas na cidade de São Paulo.
Leia o artigo na íntegra.
VANTAGEM OU DESVANTAGEM?
Pais e educadores se deparam com a questão de expor crianças em idade tão precoce a uma educação bilíngue, muitas vezes justificando a não exposição ao fato de sobrecarregá-la com tantas informações, com medo de que a criança deixe de vivenciar algumas fases de sua infância. No entanto, outros pais não querem que seus filhos passem pelas tantas dificuldades que eles passaram para aprender idiomas e não relutam em dizer que quanto mais cedo, melhor.
Qualquer criança que não apresente nenhum déficit neurológico tem capacidade de adquirir a linguagem, não importando a hereditariedade ou a raça dessa criança; seja qual for sua nacionalidade, ela aprenderá a falar o idioma ao qual for exposta em seu meio. (BRILHANTE, 2005. p.01).
É válido mencionar que não basta somente a exposição ao meio e estímulos; a alimentação correta e balanceada é fator determinante do desenvolvimento da criança, sendo que a idade crucial vai dos zero aos sessenta meses de vida. Desde a gestação, a mãe deve preocupar-se com a ingestão de nutrientes e após o nascimento de seu filho a amamentação é extremamente necessária e posteriormente a introdução de alimentos saudáveis.
Nesta etapa da vida da criança, há mais facilidade para o desenvolvimento de novas habilidades, sendo este período chamado por alguns estudiosos de ‘crítico ou sensível’. E aproveitando esta sensibilidade para aprender que os idiomas podem ser inseridos no cotidiano delas.
É bastante proveitoso tornar a criança bilíngue, não somente sob o ponto de vista linguístico, mas também intelectual. Tomemos como exemplo famílias brasileiras que moram em um ambiente que o português não é falado. Se os pais não se comunicam com seus filhos utilizando a língua materna, as crianças estão arriscadas a não assimilar bem os dois idiomas, segundo George Lüdi, linguista do grupo de pesquisa de Basiléia.
E se os pais querem que seus filhos aprendam línguas e eles moram em seu país de origem? O linguista acredita na interação com pessoas e não ao bombardeio cultural através dos meios de comunicação de massa. Neste caso, a opção mais apropriada é que crianças frequentem escolas bilíngues ou em escolas especializadas no ensino de línguas estrangeiras para crianças, sempre atentos ao desenvolvimento de seus filhos, bem como à credibilidade da escola e dos profissionais da equipe docente para que certos vícios de pronúncia não sejam adquiridos. “As possíveis falhas que o profissional apresentar na pronúncia das palavras serão internalizadas rapidamente pelas crianças” (BRILHANTE, 2005. p. 02) e o processo de correção desta pronúncia na fase adolescente ou adulta torna-se muito mais difícil, pois o erro cristaliza na memória.
Todavia, se o contato com línguas ocorrer mais tarde, haverá o aprendizado, mas este será mais demorado e pode sofrer interferências da língua mãe.
Desde o princípio da vida, temos à nossa disposição no córtex auditivo uma rede neuronal capaz de processar todos os fonemas do mundo, mas a partir do primeiro ano de vida o bebê sempre percebe com mais rapidez e precisão aqueles fonemas provenientes do seu entorno. Todos os demais são, já ao cabo de poucos meses, identificados como não pertencentes à língua materna, de tal modo que, com o tempo, a percepção deles piora cada vez mais. (...) A rede neuronal para a percepção dos sons reduz-se após um ano e segue encolhendo cada vez mais ao longo da infância. Assim, a pronúncia é o aspecto da aquisição de uma língua que primeiro se fixa no cérebro. (KRAMER, 2005. p. 69)
Em um experimento promovido por Sonja Kotz, do Instituto Max Plank de Pesquisa Neuropsicológica de Leipzig, a pesquisadora chegou ao resultado de que aprendizes tardios que passaram mais de um ano no exterior revelaram rapidez de reação, chegando próximo aos precoces e pesquisadoras de Milão e Berlim concluíram com seus experimentos que os mais velhos têm maior domínio de palavras do que da gramática da língua estrangeira, devido às imersões no exterior.
Se realmente existe o desejo de aprender novas línguas a idade não é o fator mais preponderante, mas sim o fato de estar aberto e tolerante à nova cultura. Pode ser um processo mais turbulento, mas com determinação e força de vontade qualquer um alcança os objetivos.