Por p&b Comunicação
Criado pelo estudante de economia
Gustavo Fuga, de 22 anos, o negócio social convida refugiados e universitários
estrangeiros a ensinar inglês em comunidades de baixa renda da cidade de São
Paulo. O valor da mensalidade é até sete vezes menor que o de cursos tradicionais
de idiomas.
Democratizar o
acesso aos cursos de idiomas é o objetivo principal da rede de escolas 4YOU2.
Ela capacita estrangeiros para ministrar aulas de língua inglesa em comunidades
de baixa renda da cidade de São Paulo. O diferencial da empresa, criada pelo
estudante de economia Gustavo Fuga, de 22 anos, está no preço acessível. Os
alunos desembolsam R$ 76 por mês para terem aulas, já com material didático
incluso. Esse valor chega a ser sete vezes menor que o cobrado por outras
escolas de inglês do mercado.
A
iniciativa está bem conectada com a realidade do mercado, pois um levantamento
realizado pela empresa de recrutamento Catho aponta o quanto a fluência no
inglês pode fazer a diferença na carreira. Profissionais com curso superior
completo que dominam o idioma chegam a ganhar, em média, 47% mais que aqueles
que não falam a língua. O problema é que, nem sempre, o inglês cabe no
orçamento de famílias das classes C e D.
Pensando em
solucionar essa demanda, o jovem acertou em um ponto importante do negócio: o perfil
do professor contratado. São universitários de todas as partes do mundo, que
vêm para o Brasil cursar uma espécie de estágio internacional. Para dar aulas
na 4YOU2, eles ganham uma bolsa-auxílio, hospedagem e a oportunidade de imergirem
na cultura do país, ao morarem na própria comunidade onde trabalham, o que também
acaba gerando renda local.
O intercâmbio dura
cerca de seis meses. Isso permite aos alunos da 4YOU2 contato com diversos
professores, de diferentes países, sotaques e culturas. Atualmente, 16
estrangeiros lecionam na empresa. “Cinco são refugiados, que ensinam inglês na
escola, apesar de não ser sua língua nativa. São pessoas que, por não falar
português, tinham dificuldades em encontrar trabalho aqui no Brasil”, conta o
fundador. Tanto os refugiados quanto os intercambistas são recebidos por
moradores das comunidades onde acontecem as aulas. As chamadas host families ganham ajuda de custo de
R$ 300 por mês da escola para abrigar os hóspedes.
Improviso
com resultados
Nascido na zona
oeste do Rio de Janeiro, Fuga mudou-se para São Paulo em 2010 com a meta de cursar
faculdade. Já no primeiro semestre de economia na USP (Universidade de São
Paulo), ingressou na Aiesec, uma rede estudantil internacional que organiza
estágios para universitários ao redor do mundo. Dessa experiência, sacou as
primeiras ideias para seu negócio social.
Atuando como
coordenador de intercâmbios, o jovem precisou ter jogo de cintura para lidar
com um imprevisto: um dos projetos da Aiesec, que viabilizara a vinda de um
estudante estrangeiro para trabalhar na região do Capão Redondo, acabou sendo
cancelado. Mas o aluno já estava em São Paulo. Em uma tentativa de resolver o
problema, Fuga criou a própria empresa. “Inventei na hora um projeto de aulas
de inglês que, na verdade, nem existia.”
Ele passou a noite
em claro pensando em como tornar realidade a proposta inventada de supetão: trazer
estrangeiros para ensinar inglês em regiões pobres de São Paulo, onde seriam
recebidos por famílias locais e viveriam um intercâmbio cultural. Em abril de
2012, constituiu a 4YOU2 exatamente com esse formato.
Novos
horizontes
No primeiro ano de
atuação, a 4YOU2 alcançou a marca de mais de 300 estudantes matriculados. As
aulas aconteciam dentro da ONG Fábrica de Criatividade, localizada no Capão
Redondo, que alugou o espaço. Mas, com a crescente demanda por vagas, já era
hora de expandir.
Gustavo convidou o
americano Raley White, de 27 anos, para ser o diretor de operações. O
estrangeiro elaborou um manual de normatização para que o método de ensino e
administração da 4YOU2 pudesse ser replicado em outras unidades. Hoje, existem
quatro escolas em São Paulo, nos bairros de Heliópolis, Jardim Ângela, Campo
Limpo e Capão Redondo. Ao todo, são 1.500 alunos matriculados. Entre eles, está
a coordenadora de eventos Thais Brandão Gullotta, de 24 anos. “As aulas são
sempre dinâmicas, não ficamos só nos livros, e os próprios alunos também
ensinam aos professores palavras em português ou hábitos da nossa cultura. É
uma troca muito prazerosa”, afirma a estudante.
Até
o fim de 2017, Fuga planeja ter 14 unidades espalhadas pela capital paulista,
além de uma plataforma online para
alcançar cada vez mais pessoas. “Nossos alunos são muito envolvidos com os
professores e com a escola, e isso diminui muito a evasão”, avalia. O
empreendedor também já foi procurado recentemente por representantes de comunidades
de outras cidades para expandir seu modelo de negócio social.
Pelo trabalho que
desempenha e por todo o impacto positivo que está causando nas regiões onde
atua, Gustavo Fuga está entre os três finalistas do Prêmio Folha Empreendedor
Social de Futuro 2015. Realizada pela Folha de S.Paulo, a premiação reconhece e
promove novos talentos sociais, entre 18 e 35 anos, que empreendem de forma
inovadora na sociedade há no mínimo um ano e, no máximo, três.