Como o texto das corridas fez sucesso, já faz um tempinho que pensei em escrever outro artigo no mesmo estilo, mostrando como nossas atitudes determinam o sucesso (ou fracasso) no aprendizado de um idioma.
Estou há quase 1 ano "estudando" francês, mas ainda não me sinto muito confiante para falar nem diálogos básicos e entendo uns 30% de cada exercício de listening (sem contar que nunca sei onde entram os acentos, muito menos como pronunciar o "oe" junto que não dá nem para digitar!).
Quando estava estudando inglês, em 1 ano já me sentia muito mais confiante e certamente conseguia me "virar" muito melhor no que em francês. Comecei o Basic 1 em uma escola de idiomas aos 16 anos e aos 19 estava dando aula na mesma escola e logo depois em mais duas. Como consegui aprender inglês tão rápido e por que não estou aprendendo francês na mesma velocidade?
Interesse e necessidade - Eu realmente gostava de inglês e dos professores e queria aprender, tanto para ir melhor no colégio, pois de um primeiro ano com um livro muito básico a escola "pulava" para um livro com textos voltados ao vestibular e depois um terceiro ano de inglês técnico para informática, como já pensando no mercado de trabalho e em futuras viagens. Fiz três cursos intensivos de férias e, mesmo nos semestres "normais", estava quase todos os dias na escola para participar de atividades extras ou do famoso laboratório. Com relação ao francês, adoro minha professora (Claudia, este texto é para você), mas não tenho a mesma relação com a língua como tinha com o inglês, nem a mesma necessidade de aprender (já consegui até me "virar" por uma semana na França com Je ne parle pas français). Estudo francês só por prazer, sem uma intenção clara, como gabaritar a prova do vestibular. Talvez, se eu estabelecesse um objetivo, me dedicaria mais.
Atitude e dedicação - Eu realmente estudava inglês e fazia tudo o que indico para meus alunos fazerem, como assistir a filmes sem legenda ou com legenda em inglês (numa era pré-DVD e pré-Youtube, ou seja, literalmente cobrindo as legendas da TV com tira de papel e fita crepe - Gosh, I'm getting old!). Ou ouvir música e tentar "tirar" a letra antes de olhar na Internet, ler livros e revistas em inglês, escrever emails (na verdade, comecei com pen-pals por carta mesmo) para amigos ou mesmo redações (sem a professora mandar), entre outras coisas.
E em francês? Devo assistir a uns 2 filmes por ano em francês contra uns 30 em inglês (e geralmente não entendo o final dos filmes franceses, só percebo que acabou porque começam a subir os créditos), tenho 1 CD de músicas francesas (gravado pela minha professora) contra uns 150 de inglês, não estou escrevendo nem um parágrafo básico e a aula deve começar em 5 minutos (faço aula particular em casa) e em vez de estar estudando, estou escrevendo no blog! É, realmente minha dedicação está lá embaixo... Mas pelo menos eu não cancelo aula por qualquer motivo (ou sem motivo algum)! Ops, a campainha, é minha professora. Continuo escrevendo à noite.
Horas de estudo - Ligado ao tema anterior - dedicação - estou dedicando exatamente... 1 hora por semana ao francês! Se lembrarmos de outro texto publicado aqui, que comenta que precisamos de 10 mil horas para aprender muito bem qualquer coisa, vai demorar bastante nesse ritmo. Estou fazendo tudo o que os alunos não devem fazer, como nem tocar no material durante a semana, não revisar a matéria e não ser proativa no aprendizado. Mas pelo menos reconheço minha falta de dedicação e sei que é por isso que não estou progredindo tanto quanto poderia. Quantos alunos fazem essa mesma reflexão?
Aspecto cultural - Quantas personalidades francesas consigo listar rapidamente? Umas 10, talvez, incluindo figuras de hoje e do passado, como Napoleão Bonaparte, Charles de Gaulle, Edith Piaf, Marcel Proust (e nunca li nada dele), Alain Prost, Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy, Carla Bruni (acabo de descobrir que ela nasceu na Itália), Zidane e Audrey Tautou. Devo conhecer mais uns, mas se tiver que fazer uma lista de personalidades americanas ou inglesas, certamente lembrarei de umas 100 em poucos minutos. Claro que isso tem a ver com a própria influência americana e do idioma inglês no Brasil, mas se eu realmente quisesse conhecer mais sobre a história e a cultura francesas, bastariam alguns cliques. Novamente, faltam interesse e dedicação. Agora, se você estuda inglês, não tem muita desculpa, pois nem precisa ir atrás das informações sobre personalidades americanas ou inglesas, elas chegam até nós, basta ficar de olho no que está acontecendo no mundo.
Resumindo, se você está "estudando" um idioma, mas não está aprendendo, avalie suas atitudes antes de desistir do curso ou, ainda, de culpar seu professor.