segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Você sabe o que é Andragogia?

Artigo enviado por Maristela Oliveira, coordenadora pedagógica da Companhia de Idiomas.

Você sabe o que é Andragogia?

O COMEÇO
O modelo pedagógico tradicional chegou até o século presente e é a base da organização do nosso atual sistema educacional. Esse modelo confere ao professor responsabilidade total para tomar todas as decisões a respeito do que vai ser aprendido, como será aprendido, quando será aprendido e se foi aprendido. É um modelo centrado no professor, deixando ao aprendiz somente o papel submisso de seguir as instruções do professor. E esse modelo também costuma ser aplicado ao aprendiz adulto.

Apenas em 1950 alguns educadores começaram a organizar ideias em torno da noção de que adultos aprendem de maneira diferenciada. Também aprendem melhor e com maior eficácia em ambientes informais, confortáveis, flexíveis e não ameaçadores.

Linderman, E.C, em 1926, pesquisando as melhores formas de educar adultos para a American Association for Adult Education percebeu algumas impropriedades nos métodos utilizados e lançou as bases para o aprendizado centrado no estudante, e do aprendizado tipo 'aprender fazendo'. Infelizmente sua percepção ficou esquecida durante muito tempo.

A partir de 1970 , Malcom Knowles trouxe à tona as ideias plantadas por Linderman. Publicou várias obras, entre elas The Adult Learner - A Neglected Species (1973), introduzindo e definindo o termo Andragogia - A Arte e Ciência de Orientar Adultos a Aprender. Daí em diante, muitos educadores passaram a se dedicar ao tema, surgindo ampla literatura sobre o assunto.

APRENDIZAGEM NO ADULTO

Kelvin Miller afirma que estudantes adultos retêm apenas 10% do que ouvem, após 72 horas. Entretanto, serão capazes de lembrar de 85% do que ouvem, vêem e fazem, após o mesmo prazo. Ele observou ainda que as informações mais lembradas são aquelas recebidas nos primeiros 15 minutos de uma aula ou palestra.

Para melhorar estes números, faz-se necessário conhecer as peculiaridades da aprendizagem no adulto e adaptar ou criar métodos didáticos para serem usados nesta população específica.
Segundo Knowles, à medida que as pessoas amadurecem, sofrem transformações:

Passam de pessoas dependentes para indivíduos independentes, autodirecionados.
Acumulam experiências de vida que vão ser fundamento e substrato de seu aprendizado futuro.
Seus interesses pelo aprendizado se direcionam para o desenvolvimento das habilidades que utilizam no seu papel social, na sua profissão.
Passam a esperar uma imediata aplicação prática do que aprendem, reduzindo seu interesse por conhecimentos a serem úteis num futuro distante.
Preferem aprender para resolver problemas e desafios, mais que aprender simplesmente um assunto.
Passam a apresentar motivações internas (como desejar uma promoção, sentir-se realizado por ser capaz de uma ação recém-aprendida, etc), mais intensas que motivações externas como notas em provas, por exemplo.

ORIENTANDO ADULTOS A APRENDER

Adultos sentem a necessidade de serem vistos como independentes e se ressentem quando obrigados a acatar o desejo ou as ordens de outros. Por outro lado, devido a toda uma cultura de ensino onde o professor é o centro do processo de ensino-aprendizagem, muitos ainda precisam de um professor para lhes dizer o que fazer. Alguns adultos preferem participar do planejamento e execução das atividades educacionais. O professor precisa se valer destas tendências para conseguir mais participação e envolvimento dos estudantes. Isto pode ser conseguido através de uma avaliação das necessidades do grupo, cujos resultados serão enfaticamente utilizados no planejamento das atividades. A independência e a responsabilidade serão estimulados pelo uso das simulações, apresentações de casos, aprendizagem baseada em problemas, bem como nos processos de avaliação de grupo e autoavaliação.

Os adultos têm experiências de vida mais numerosas e mais diversificadas que as da criança. Esta fonte poderá ser explorada através de métodos que exijam o uso das experiências dos participantes, como discussões de grupo, exercícios de simulação, aprendizagem baseada em problemas e discussões de casos. Estas atividades permitem o compartilhamento dos conhecimentos já existentes para alguns, além de reforçar a autoestima do grupo.

Os adultos vivem a realidade do dia a dia. Portanto, estão sempre propensos a aprender algo que contribua para suas atividades profissionais ou para resolver problemas reais. Os métodos de discussão de grupo, aprendizagem baseada em problemas ou em casos reais novamente terão utilidade, sendo esta mais uma justificativa para sua eficiente utilização. Muitas vezes será necessária uma avaliação prévia sobre as necessidades do grupo para que os problemas ou casos propostos estejam bem sintonizados com o grupo.

Adultos se sentem motivados a aprender quando entendem as vantagens e benefícios de um aprendizado, bem como as consequências negativas de seu desconhecimento. Métodos que permitam ao aluno perceber suas próprias deficiências, ou a diferença entre o status atual de seu conhecimento e o ponto ideal de conhecimento ou habilidade exigida, sem dúvida serão úteis para produzir esta motivação. Aqui cabem as técnicas de revisão a dois, revisão pessoal, autoavaliação e detalhamento do assunto. O próprio professor também poderá explicitar a necessidade da aquisição daquele conhecimento.

Estímulos externos são classicamente utilizados para motivar o aprendizado, como notas nos exames, premiações, perspectivas de promoções ou melhores empregos. Entretanto as motivações mais fortes nos adultos são internas, relacionadas com a satisfação pelo trabalho realizado, melhora da qualidade de vida, elevação da autoestima. Um programa educacional, portanto, terá maiores chances de bons resultados se estiver voltado para estas motivações pessoais e for capaz de realmente atender aos anseios íntimos dos estudantes.

Comparando o aprendizado de crianças e de adultos

Características da Pedagogia
Relação Professor/Aluno: professor é o centro das ações, decide o que ensinar, como ensinar e avalia a aprendizagem.
Razões da Aprendizagem: alunos devem aprender o que a sociedade espera que saibam seguindo um currículo padronizado.
Experiência do Aluno: o ensino é padronizado e a experiência do aluno tem pouco valor.
Orientação da Aprendizagem: aprendizagem por assunto ou matéria.

Características da Andragogia
Relação Professor/Aluno: a aprendizagem adquire uma característica mais centrada no aluno, na independência e na autogestão da aprendizagem.
Razões da Aprendizagem: pessoas aprendem o que realmente precisam saber (aprendizagem para a aplicação prática na vida diária).
Experiência do Aluno: a experiência é rica fonte de aprendizagem, através da discussão e da solução de problemas em grupo.
Orientação da Aprendizagem: aprendizagem baseada em problemas, exigindo ampla gama de conhecimentos para se chegar à solução

Enfim, o professor precisa se transformar num tutor eficiente de atividades de grupos, devendo demonstrar a importância prática do assunto a ser estudado, deve transmitir o entusiasmo pelo aprendizado, a sensação de que aquele conhecimento fará diferença na vida dos alunos; ele deve transmitir força e esperança, a sensação de que aquela atividade está mudando a vida de todos e não simplesmente preenchendo tempo de aula.